Uma das maiores poetisas do Brasil, Cecília Meireles, teve um de seus poemas transformado em canção por Chico Buarque, um dos ícones da música popular brasileira e também renomado escritor. A música, intitulada “Tema de ‘Os Inconfidentes’”, ganhou voz primeiramente através de Nara Leão, em seu álbum de 1968, e posteriormente foi regravada por Chico Buarque, com a participação do grupo MPB4, no disco “Chico Buarque de Holanda Nº4”, lançado dois anos depois.
A poesia que inspirou a canção faz parte da obra “Romanceiro da Inconfidência”, publicada por Cecília Meireles em 1953. A obra surgiu após a experiência da autora como jornalista, quando foi cobrir a Semana Santa em Ouro Preto, Minas Gerais. A atmosfera da cidade a envolveu, levando-a a aprofundar suas pesquisas sobre a Inconfidência Mineira, resultando em um livro que narra, de forma lírica e dramática, a saga dos inconfidentes.
Em 85 romances, acompanhados de quatro cenários e outros textos de prólogo e êxodo, Cecília Meireles retrata a escravidão dos africanos na região central do planalto, explorando os episódios da extração de ouro e diamantes no século XVIII. O núcleo central da coletânea é dedicado ao destino dos heróis da Inconfidência Mineira, como Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga e sua amada Marília de Dirceu, além de outras figuras históricas envolvidas no movimento, denunciando o sistema colonial que explorava os mais vulneráveis.
A relevância da canção transcendeu fronteiras, ganhando uma versão em italiano por Sergio Bardotti, com o título “In Memoria Di Un Congiurato”, que integrou o álbum “Per un Pugno di Samba – Chico Buarque e Ennio Morricone”, lançado em 1970.
Cecília Meireles, nascida no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901 e falecida em 9 de novembro de 1964, dois dias após completar 63 anos, é considerada uma das mais importantes figuras da literatura brasileira. Além de poetisa e escritora, foi também pintora, jornalista e professora, desempenhando um papel fundamental no Modernismo brasileiro e contribuindo ativamente para a cultura do país. Sua obra, de caráter intimista, possui forte influência da psicanálise, com foco em temas sociais.
Ao longo de sua carreira, Cecília Meireles recebeu diversos prêmios importantes, como o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras pelo livro “Viagem” (1938), o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária pelo livro “Poesia de Israel” (1963) e o Prêmio Jabuti de Poesia pelo livro “Solombra” (1964). Além disso, foi agraciada com o Prêmio Machado de Assis em 1965. Realizou palestras e conferências sobre educação, literatura brasileira, teoria literária e folclore em diversos países do mundo. Cecília Meireles também se posicionou contra o uso do termo “poetisa”, considerando-o uma discriminação de gênero.
Fonte: novabrasilfm.com.br