A canção “Girassol”, lançada em 2002 no “Acústico MTV Cidade Negra”, continua a reverberar na cena musical brasileira, mas de uma forma inesperada. A música, um dos maiores sucessos da carreira de Toni Garrido e da banda Cidade Negra, composta em parceria com Da Ghama, Lazão, Bino Farias e Pedro Luís, passou por uma recente transformação que reacendeu discussões sobre autoria, representatividade e a liberdade artística.
A inspiração original de “Girassol” surgiu de uma visita de Toni a amigos que haviam perdido um bebê. Levando um buquê de girassóis, o gesto simples transformou o ambiente e inspirou o verso inicial: “No coração de quem faz a guerra nascerá uma flor amarela como um girassol.” A canção, que fala sobre esperança, leveza e renascimento, logo conquistou o país.
No entanto, mais de duas décadas depois, Toni Garrido surpreendeu ao alterar um verso central da música. Durante uma apresentação no programa “Altas Horas”, ele revelou ter substituído a frase “Já que, pra ser homem, tem que ter a grandeza de um menino, de um menino” por “Já que, pra ser homem, tem que ter a grandeza de uma menina, de uma mulher.”
A mudança gerou reações diversas nas redes sociais, dividindo opiniões até mesmo entre os autores da canção. Da Ghama, guitarrista e coautor de “Girassol”, manifestou seu descontentamento, afirmando ter se sentido “altamente desrespeitado como compositor”. Para ele, o verso original criticava a violência, a guerra e a falta de empatia, funcionando como “um hino de trazer luz para pensamentos obscuros”.
O episódio reacendeu um debate sobre os limites da liberdade artística e o respeito à obra original. Uma vez que uma música se torna popular, ela ganha vida própria e transcende a intenção de seus autores. Enquanto alguns defendem a importância de adaptar a arte aos novos tempos, outros ressaltam a importância de preservar a memória afetiva ligada à versão original.
Toni Garrido explicou que a alteração foi um ato espontâneo, motivado pelo desejo de celebrar a força feminina em um momento em que a presença das mulheres é cada vez mais central. “Foi uma brincadeira amorosa”, declarou, enfatizando que “a arte é livre” e que o importante é que a música continue a tocar as pessoas.
A nova interpretação de “Girassol” também levanta questões sobre representatividade e a sensibilidade contemporânea. Ao incluir “menina” e “mulher” no verso, Toni expande o significado da canção, celebrando a força, a delicadeza e o poder de regeneração femininos.
A alteração na letra de “Girassol” é um exemplo de como a arte é um organismo vivo, capaz de se transformar e respirar novos tempos. Outros artistas também já revisitaram suas obras, seja alterando letras ou excluindo canções de seus repertórios, refletindo novas convicções e perspectivas. Em 2022, Chico Buarque admitiu que não cantava mais “Com Açúcar, Com Afeto”, por não concordar com a representação da mulher na letra. No mesmo ano, Martinho da Vila expressou desconforto com a música “Você Não Passa de Uma Mulher”, reconhecendo que seu conteúdo refletia um contexto dos anos 70 que não se encaixava em suas convicções atuais.
Fonte: novabrasilfm.com.br