O céu cinzento de Belo Horizonte reverbera a grandiosidade das lendas, como as míticas minas do Rei Salomão, ricas em tesouros imaginários. Contudo, nas montanhas de Minas, terra de poesia e música, Lô Borges era uma realidade, uma verdadeira realeza.
O prodígio mineiro, que conquistou o mundo, firmou-se como um ícone, um soberano incontestável das Minas Gerais que realmente importam: aquelas que ele escavou com sua melodia, revelando tesouros emocionais inestimáveis, muito além do ouro e do ferro. Lô Borges, o cartógrafo afetivo, ensinou a apreciar as paisagens de Belo Horizonte e do interior do Brasil com a sensibilidade de quem ama seu lar, transmitindo esse carinho singular a todos.
Entre campos de sóis e girassóis infinitos, janelas abertas para a infância e chuvas nas montanhas de nuvens, Lô Borges ergueu os alicerces do Clube da Esquina, garantindo que a maior riqueza reside na intersecção da simplicidade e da genialidade. Dispensando cetros e coroas, ele, com seu violão e tênis desgastado, inspirou amigos e até mesmo Alex Turner.
Sua arte, profunda e leve como uma “Nuvem Cigana”, encontrou no rock sua voz. Partindo no Dia de Finados, sua jornada ecoa a poesia de Ronaldo Bastos: Lô embarcou em seu último “Trem Azul”, o mesmo que embalou paixões e despedidas por todo o país, levando-o agora à sua derradeira viagem.
Lô Borges, a “Via-Láctea” o aguarda, e seu lugar é na constelação mais radiante do universo. Ele, que cantou o tempo como abstração, agora é o próprio tempo. Permanece o mapa que ele desenhou em canções.
A certeza que fica é que, enquanto houver uma janela, um girassol ou o eco de um trem em alguma esquina, seu tesouro continuará a ser descoberto em nossos corações.
Descanse em paz. Sua canção é eterna.
“Isto não se apaga como a vela
Nem ao menos se despersa qual vento dos corações…”
Fonte: www.tenhomaisdiscosqueamigos.com